sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Canção de Ninar

Tudo começa com um olho se abrindo.

Mão na cabeça.

Olha pro teto, se abraça. Suspira.

Difícil né?

Pelo que você levantou da cama hoje?

Eu não sei.

Talvez porque o barulho me irrite.

Porque a luz me canse.

Porque tudo que é maior que eu pede pra eu me levantar.

A chuva te chama de trouxa, a hora te chama de vagabundo, o tempo te chama de insignificante.

Caminhe.

Dê passos livres na grama molhada.

Levante a cabeça pro céu, acaricie o vento com o cabelo.

Descalço, pés na terra, cheiro de mato, de chuva.

Pense nele.

Pense em você.

Pense em mim.

Pense na sua mãe.

Pense no seu pai.

Pense no que você fez.

Pense no que você perdeu.

Pense no que errou.

Pense em como você não conhece ele, mas se você pensar, no fim de tudo. Você fica feliz.

Ele não é nada pra você.

Você não o ama.

Não o conhece direito.

Mas sabe que algumas coisas você faz bem

Sabe que algum valor você tem.

E ele, como quer te conquistar, ressalta suas qualidades.

Seus amigos não fazem isso mais.

Seus pais não fazem isso.

Mas ele faz.

Pode durar um mês.

Uma semana.

Um dia.

Pra sempre.

Ele te faz bem.

Ele é o veneno doce que você toma pra morrer algum dia de pena.

Pena de si.

Pena por acreditar nele.

Acreditar em palavras.

Confiar em prosa.

Sorrir em combinado.

Chorar em dívida.

Odiar em preconceito.

Amar o cego.

Matar o surdo.

Beijar o mudo.

E continuar buscando deficiências que só sua cabeça conhece.

Agora durma.

Quando você acordar...

Pense nele.