sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sou teu erro

Bailarinas em pontas de faca.
Movimentos duros e doloridos.

Foco de luz na sua cara.
Risos.

Sua dor assistida, comentada e avaliada, por uma comissão de juízes que tem tantas cicatrizes que mal vemos seus rostos.

Apaguei os SMS, as DMs, os depoimentos.
O que eu tenho são lembranças vagas, fracas e vergonhosas.

A multidão te ama quando você sangra em público.
O amor comove, emociona. A dor do amor alucina, vandaliza, te faz estrela de mortes e momentos.

Eu esqueci daquelas ligações.
Falei tudo o que queria falar.
Falei tudo o que eu não devia falar.

Existem documentos, testemunhas, vítimas e fotos.
Socos e sussurros.
Cortes, coices e cotoveladas.
Palavrões, prazer e paladar.
Promessa e perdão.
Dias longos, dias muito longos e dias que ainda não acabaram.
Forcas, fossas, força.
Um sim, um não. um sim, dois talvez. um talvez e até logo.
Disse o que não sinto, ajo como sinto.

Tantos rostos, tantos nomes.
Coloquei todos numa folha de papel, cuspi, rasguei, atirei fogo.
Amnésia.

Tão bom, tão simples, tão prático.
Placebo mental.


Fuma, fede, foda-se.
Nunca me colocaram regras, já que não sou abrigado, não me privo de impor portões de acesso blindados ao meu peito.

Como chuva, caem cacos de vidro do céu.
Ergo a cabeça, tiro as roupas, abro a boca.
Nunca foi tão doce.
Livre pra doer, livre pra sentir, livre pra morrer sem choro, viver sem dó.

Estou aberto, sou criança, sou menino novo e inocente.
Sou balança do parque, gira-gira sem lado certo pra rodar.
Sou a lágrima do teu pulso, sangue do teu olho.
Dor do seu sorriso, alegria da tua morte.
Sou teu erro.
Tua expectativa inalcançada.
Teus sonhos inalcançáveis.
Tua sorte em dias de chuva.
Teu mal em plena luz do Sol.
Sou teu medo que grita, tua fúria que acalma.
Sou tuas mãos duras, teus olhos podres.
Tua boca contaminada, teu corpo em preto e branco.
Sou teu vômito e tua sede.
Tão doce que amargo, tão amargo que amadurece.


Acordei sorrindo.

Me dou o direito de colocar uma página em branco em cima das rasuras da minha memória.

A arte de fazer da vida um jogo de sueca.

domingo, 7 de novembro de 2010

O que nossos pais não nos ensinaram

Eu não sei como começar, porque talvez essa história não tenha começo.

Tudo acontece num tropeço de criança, e as mãos que te salvam foram as mesmas que te deixaram cair.


Não existe história de amor. Não existe limite, nem dia de sorte. É um caso de fraqueza do orgulho que descarrilha pra carência.

No dia seguinte as pessoas voltam ao normal, mesmo dividindo a mesma cama, eles fingem que não se conhecem.

É o que o orgulho permite; é o que eu me limito a fazer, já que não sei ler mentes.

Tapas no peito, na cara, no ego. O universo das atitudes cria a fantasia perfeita pra uma história mal resolvida, que nunca teve motivos ou explicações. A gente finge que nada aconteceu, o jeitinho tímido e meigo de ser tapa a ferida com um sorriso.

Silêncio e brigas, esse é o contexto.
O trágico nunca foi tão cômico. Cuspir palavrões e engolir indecisões.


O mais prazeroso: ninguém perde ninguém, ninguém deixa de amar ninguém, porque ninguém se ganha, ninguém se ama, ou pelo menos não se permite ser.

A sobriedade não faz parte dessa história.
Nossos pais não nos ensinaram a lidar com isso; nem toda experiência do mundo entende o amor, a paixão ou o puro impulso do tesão que seja.

Meus joelhos estão ralados, minhas roupas pra lavar e minha cabeça tentando decifrar meus enigmas desconexos, sem contexto histórico ou base teórica.


Repito: eu não sei lidar com isso. Continuarei não sabendo até você me dar explicações, e como nunca dará, permanecerei não sabendo.

E como nunca houve despedida, não vejo porque haver alguma agora.

Até o acaso.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Três copos de vodka

Estava com minhas amigas.
Fomos no mercado.
Bebemos.
Chegamos na porta da balada, e antes de uma delas vomitar...

Você me pegou de surpresa.

Isso nunca tinha acontecido antes, um dia tinha que acontecer. E até agora eu não sei se agradeço ou me arrependo de ter conhecido você.

Eu sou à prova do tempo, à prova de mágoa, à prova de medo. Você sabe. Eu só não consigo me privar de tentar, não sou à prova de idiotices, e me provo todos os dias o quão bom nisso eu sou.


E quer saber? Eu não me arrependo.

Só de tocar na sua pele eu fico feliz, e não sei como, mas nunca vi você beijando outra pessoa. Acho que esse é teu presente pra mim. Apenas isso. Sempre foi isso.

A pessoa mais sensível do mundo, dentro da casca mais grossa do mundo.
Os únicos que costumam romper essa casca são meus pais, alguns amigos e o álcool.
Uma noite boa, uns goles e você... HUAHSAU! ironia, mas aconteceu.


Pensei rápido no que ia dizer.
Ensaiei comigo mesmo.
Ensaiei com outras pessoas.
Duas tragadas.
Lá fui eu...

Agora, depois ou nunca mais?

Perguntar se eu estava bem foi por educação ou acanhamento, não reconheci direito. Mas era óbvio que não.

Digo que sim. Assim as coisas ficam mais fáceis.

Mais vergonhoso pra você que estava bem (eu acho), menos pra mim que estava mal.

Mas a bebida passa, a ressaca vem, e pior do que ela só as lembranças. A sina das minhas lembranças sempre são a vergonha. Acho que isso não muda tão cedo.

Pra quem aos 10 anos queria fazer parte de Chiquititas.
Aos 13 estudar no Elite Way School.
Aos 15 participar do BBB.
Aos 17 viver em Skins.
Aos 18 eu ainda não descobri um sonho...


Realidade. Nunca pensei no felizes para sempre, a final, acho que foi a vergonha que me tornou a pessoa estranha e excêntrica que sou hoje. Para sempre eu sei que não existe, por isso eu prefiro o felizes, e feliz eu sempre fui, mesmo que só desejando. Tenho medo da extrema felicidade.

Agora eu peço desculpas pra mim mesmo por estar sendo ridículo, mais uma vez, mas como eu disse eu nunca me canso.

Se foi a bebida ou a exaustão eu não sei, mas um dia ia chegar a hora de eu falar alguma coisa. Eu precisava saber, e pra ser sincero até agora eu não desvendei os sinais que você deixou.

E olha que já faz mais que um ano...

Tudo começou com um oi, conterrâneo.
E acabou em três copos de vodka.

Por enquanto!