Um dia.
5 minutos de tédio.
(Leia escutando)
O número 1 pensava, pensava que pensava, não sabia dizer o que pensava. Mas ele estava dentro de si, tão fundo que perdido, tão distante que invisível.
O número 2 sabia no que ele pensava. Ria do que ele pensava. Gostava do que ele pensava, mas de medo do escuro preferiu continuar frio. Risca por instante e por privilégio o fósforo do entendimento, e apaga a cada segundo por covardia.
5 minutos de frio.
2 - O que foi?
1- Nada. Não fui, nem irei.
2 - Por que?
1 - Porque eu não sei, mas alguém sabe.
2 - Quem?
1 - Outra coisa que eu não sei.
2 - Você é vago.
1 - Você me irrita.
2 - Eu gosto de você.
1 - Por isso que você me irrita.
2 - Por que eu gosto de você?
1 - Não, porque você me deixa saber isso.
Silêncio.
30 segundos de burrice.
2 - Eu não te entendo.
1 - Isso eu sei.
2 - Você fala que não sabe de nada, mas age como se soubesse de tudo.
1 - Eu sei.
2 - Suas palavras tem ponto final.
1 - Suas palavras tem interrogação.
2 - São perguntas.
1 - Muitas.
2 - Então responde.
1 - Eu não preciso.
2 - Eu nunca fui grosso com você.
1 - deveria.
2 - É por isso mesmo que eu não sou.
Número 2 ri.
20 segundos de coragem.
1 - Fala mais...
2 - Pensei que você não gostasse.
1 - Cuidado com o que você pensa.
Número 2 ri de novo.
2 - Cala boca e diz que me ama...
1 - Você quer que eu cale a boca ou que diga que te amo?
2 - Agora você faz o que mando?
1 - Não, eu faço o que eu quero.
2 - E o que você quer?
1 - Calar o boca.
2 - Então você não me ama?
1 - Eu não disse isso.
2 - Então você me ama?
1 - Também não disse isso.
2 - Cansei de brincar disso...
Número 1 abaixa a cabeça, mostra-se sonolento.
Número 2 se afasta.
2 - Bom eu vou embora. De verdade, eu tentei ser legal com você, conversar com você. Ficar perto, te entender. Mas você não fala nada, não me mostra o que você sente ou pensa. Parece que eu te deixo entediado, te canso.
1 - Eu tô cansado.
2 - De mim?
1 - De não falar o que eu penso.
2 - Então por que você não diz, não responde minhas perguntas?
1 - Porque você sabe a resposta. Porque você quer ouvir da minha boca pra se sentir bem. E porque eu não sei dizer eu te amo.
Número 2 olha assustado, talvez medo, talvez por choque.
Número 1 continuo ali. Ele não queria ouvir, não queria sentir, não queria pensar. Ele só queria dizer eu te amo, e o fez com os olhos.
Por menores que sejam as declarações de amor, elas existem, em cada vírgula, acento, entonação, ponto final, exclamação, interrogação, reticências, ironia, pleonasmo, metáfora, antítese, e juntando com o contexto o número 1 implorava amor.
O número 2 matava as aulas de português.
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