quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sentar, Escutar e Vomitar.

Não se importe com o tempo.

Ele irá te engolir de qualquer jeito.

Suspiro. Conto até três, tento esquecer lembranças que não deviam fazer mais parte da minha cabeça. Olho para trás, olho para frente, bato a cabeça. Mais uma vez. Eu levanto, eu sempre levantei, e enquanto eu puder eu estarei de pernas cravadas na terra.

O processo já se repetiu por diversos e diversos momentos.

A angústia se torna sombra, rival de toda a luz que você finge ostentar.

Então, você enxuga a desilusão do olho, bate na própria cara e se xinga, porque não há quem culpar, só havia um protagonista, o coadjuvante nunca participou da peça. Era um monólogo, um monólogo cômico, quando a auto-humilhação começa a ficar absurda e você dá risada da própria cara, por toda a vaidade que a maquiou ela continua suja, de sonhos embaraçosos que você fez de um futuro que nunca aconteceu.


Ficar sentado, ficar sentado olhando pro céu, ficar sentado olhando pro céu ouvindo sua música favorita. É o que eu mais penso em fazer. Mas eu nunca estou fisicamente sozinho. Vemos sorrisos e lembranças diante dos olhos todos os dias, e por mais que você queira vomitar sangue, a vergonha te impede, e a aparência te coage a permanecer com a dosagem certa de compostura.

Se um dia eu me abandonar eu não me culpo. Nossos corpos nasceram para desejarem outros, tanto na inveja quanto na sexualidade. Se imaginar no corpo de alguém não é só desejar aquele corpo, é ser tudo o que você queria ser mas não tem capacidade para se tornar, é voar distante da própria carne e perguntar pra alma se ela ainda está a venda. Mas nossas almas não sabem se vender, são o corpo e a mente que nos negociam, a alma apenas chora e luta com todas as forças para que aquela carne apodreça e ela se torne livre.

Talvez por isso envelhecemos, nossas almas já nascem atordoadas, querendo sumir.


Eu sei que você aparenta. Apenas aparenta. Sempre aparenta. Eu também.

Seja num olhar que foge do outro.
Ir por um caminho diferente da rua.
Entrar num outro vagão do metrô.

Mas o que a gente menos quer é aparentar. A nossa vida toda torcemos pra alguém lançar um martelo na nossa cabeça e estilhaçar nossas máscaras, que alguém corra na tua direção e diga tudo o que você não queria ouvir: eu sei o que você é, o que você quer e o porque.

Queremos que os olhares se cruzem.
Nos depararmos por acaso no meio da rua.
Entrar sempre no mesmo vagão do metrô.

Pode parecer ridículo mas às vezes a coincidência pode mesmo acontecer, mesmo sendo propositalmente provocada por nós.

Aí o dia fica mais feliz, e faz menos frio a noite.

Nos aquecemos de esperanças e lembranças que nos comem por dentro. Uma hora nós vomitaremos sangue, na cara, na boca e nos olhos do primeiro que aparecer.

Culpas não desaparecem, elas são passadas de pessoa para pessoa, até que o verdadeiro culpado morra, por isso mesmo é que ele vai ser o verdadeiro culpado.


Já tentei desistir, mas se nem meu corpo acredita no não, porque fazer a mente acreditar?

Amanhã vou tentar sentar, olhar pro céu e escutar uma boa música.

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