Abri os olhos.
Estranheza da sinestesia, não sabia o que sentia. Tinha todos os motivos do mundo para a suprema felicidade, e todos os motivos do mundo para a suprema tristeza.
Me perguntei: Estou feliz ou triste?

Por uma ou duas horas não saí de lugar, como se minha casa fosse mar, e estar na cozinha ou no meu quarto seria o mesmo azul.
Por uma ou duas horas eu tive a impressão de não saber onde estar, como se meu corpo fosse oceano, onipresente, do gelo à beira do deserto.
Por uma ou duas horas tive a impressão de estar mentalmente sufocado, com uma única pergunta, que eu em vários momentos de lucidez não soube responder.
A lucidez que me dá mais respostas, mas ela sempre dá respostas certas.
Respostas certas não significam ser respostas felizes.

Depois de alguns naufrágios, vários afogamentos, não há sobreviventes, nem mortos, apenas um número X de desaparecidos. Ninguém sabe ao certo quantos, mas os números serão contados a partir do momento em que estes saírem para respirar, ou seus corpos forem achados.
Talvez estejam lá no fundo porque queiram, desaparecidos, era tudo o que eles queriam ser naquele momento, talvez já estejam mortos lá no fundo e o corpo submerge devagar, ou ainda nadam para o fundo, com fôlego de medo e coragem de criança.

Esse é o vão em meio ao feliz e o triste: o mar.
Os nados sincronizados se encontram com os mergulhos em queda livre de náufragos desavisados, numa onda onde nem o capitão, nem a tripulação sabem encontrar o roteiro que leva a ilha dos inocentes, de saltos e salvações aleatórias. É tudo mar, é tudo água, não se sabe quem se salva, não se sabe o que se vê.
Talvez seja por isso. A dúvida não está embasada no que não se pode responder, ela só não se dá uma chance de ser respondida.
Sabe-se lá em que mar estou, talvez eu só precise conseguir respirar.
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