domingo, 13 de junho de 2010

Sol na Montanha

Do aço desmorona.

Lama que era gelo, de cacos surge água suja.

Montanha alta e imponente, de forte foi a fúnebre.

E de tão alegre pelo Sol, morreu de agonia ao ver a lua.

Era gelo e Sol. Era a contradição mais linda da natureza. Era forte.

Admirada firme de potencial invejado. Seria o pico mais alto, seria a mais dura armadilha, cruel com quem enfrenta, fiel com que a pertence.

Nasceu de acidente natural, vive de tempos a trilhas confusas.

O Sol bateu forte, que mesmo no gelo se viam miragens de deserto em areia congelada.


Passaram-se oportunidades, trancos, barrancos e foices.

Labirinto de chaves e mistérios sensíveis e sombrios, viam-se um ou dois fantasmas no alto da montanha mas nenhum sabia sorrir.


Ela aprendeu a domá-los, e de esconderijo para monstros fez-se o paraíso instável de beleza incomum.

Derrete.

Uma tempestade levou a poeira que chamavam de alegria, a montanha nunca foi realmente feliz. Mas acolhia quem estava a deriva, e calçava os que estavam no ar e gostavam de voar.

Hoje não existe pico, não existe gelo, muito menos medo.

Escorre do alto lama e água suja, inunda cidades vizinhas, antes chamadas de amigas, tentam lavar a lama, e com palavras reconstroem suas casas sujas na beira da montanha.

O gelo virou vidro, sangue escorre em bica, lágrimas da natureza.

Tão viva quanto antes, frágil como nunca. Agora a vulnerabilidade está exposta sem senso ou censura.

Ciclo ou reciclagem, lama, lixo, pó. O bem visto sempre foi previsto, mas ainda acho a surpresa mais bela.

A lógica diz que a montanha morre. Talvez seja por isso que algum sábio criou a palavra destino. Ele pode não existir, mas explica tudo. E faz da surpresa um ato revigorante, que trás a vida ao rosto mais pálido, e a montanha mais distante, mais fria, mais sozinha.


A montanha que não sabe se vai morrer amanhã. Mas odiaria que isso acontecesse. Não por amar a vida que leva, mas por não ter cumprido ainda o que a natureza a predestinou a fazer.

Já trouxe a glória ao mundo muitas vezes, chegou a hora de cuidar de si.

Trago o gelo, a areia, o vidro, o medo, a frieza, o Sol, a miragem, os sonhos de volta para o meu caos. Porque o dom da minha montanha sempre foi a beleza contraditória de tempestades de glória e fantasmas de brinquedo, que mesmo mortos nos fazem sorrir.


Aprendam que eu nunca vou me despedir, e se um dia fazê-lo, joguem minhas cinzas na montanha mais alta, mais fria e solitária de todo o planeta. Que quando o vento bater eu sorrirei novamente, não com vida mas fé, da minha poeira virar a alegria de muitas vidas, tão superficial quanto a própria vida.

Nunca será um adeus, sempre um até logo.

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