quinta-feira, 6 de maio de 2010

O mal da paz

A paz tem me deixado acomodado. Sem graça. Sem motivo. Sem vontade.

Meu sorriso já perdeu a graça e é isso que me incomoda na paz, talvez eu seja uma daquelas pessoas que precisam viver constantemente em conflito para serem felizes, mas não vêem a felicidade em meio ao conflito, só quando este chega ao fim, as armas estão baixas e a vitória ganha ou perdida, a guerra vicia, bem dito em "Guerra ao Terror".

Momentos de paz que atormentam.


Monotonia. Algo diferente, o alimento do entretenimento, a monotonia da rotina faz o dia parecer repetido, os sorrisos contados e as irritações focadas em detalhes, cautelosamente decorados e corrigidos pelo seu senso de fixação neurótica.

Sem confronto. Não podem haver momentos de impotência, é preciso estar sempre pronto para atacar, defender, pisar, julgar e matar friamente com nossos hábitos de humilhação verbal. Estar sem inimigos te faz sentir indiferente, imutável, sem opinião e sem peso. Nós adoramos lutar, não só para provar nossa força, mas para nos sentirmos feridos, recuperados e prontos para mais, dessa maneira o tempo passa mais rápido e as rugas agregam um certo valor.

Sono. Te cansa ir dormir. Te cansa levantar. Te cansa comer. Famosa preguiça de viver. Estágio autodependente motivacional extremo de quem não tem planos e perspectivas a curto prazo para realizações pessoais, não sente prazer no que faz e sabe que não sentirá pelo que irá fazer.

Durante duas semanas eu experimento isso, e descobri que essa experiência tem roubado minha essência de mim mesmo, talvez só a escondido um pouco, para que eu possa achar futuramente.

Julguei-me infeliz quando o que mais fazia era sorrir.
Chamei de azar minha sorte por ter opções.
Rastejei até o oásis e estou cuspindo no poço, típico da sobriedade, não reconhece o óbvio por sempre esperar o improvável.

Apesar de tudo admiro a paciência alheia de enfrentar batalhas que não os pertencem, passar por tormentas voluntariamente... eu pensava que tinha paciência para isso, mas acho que a única coisa que admiro em mim é que nem eu mesmo sei o que eu penso, por isso conversar comigo mesmo é um hábito freqüente.

Talvez seja esse meu Deus, a conexão do corpo com a alma.
Talvez o mundo seja feito de respeito, se constrói porque manda, se cria porque é o típico.


Fato é que devido aos contratempos atuais me senti mais cruel do que pensava. A crueldade me trouxe paz. A solidão pode-se chamar paz. Silêncio, conforto, mar aberto mas inavegável.

Que hajam tormentas, eu quero navegar.

Meu gosto por desafios está só começando, foi só esse desafio que chegou ao fim. O desafio de se fazer o que não gosta, ser o que não gosta e não gostar da experiência. Dias contados para o fim da paz e o começo da dúvida.

Ingênuo sempre fui, não sabia que a dúvida era o que me trazia energia para continuar procurando respostas, que apesar de vagas sempre me trouxeram um certo frescor na alma que me fazia sentir vivo, errado mas vivo, ignorante mas vivo, mesmo que morto por fora, por dentro eu estava vivo.

Decidi que paz eu não quero mais.

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