Duas trocas de olhares, espontâneo.
A terceira para ter certeza, insegurança.
Aproximação, olho no olho, mão na mão.
A perna desliza, os dedos queimam no peito.
Boca que vira, boca que abre, que fecha, que morde.
Sorriso, para se fazer de tímido.
Gemido, para se fazer de quente.
A mão passa pela barriga, passa pelo pano, passa do limite.
Duas risadas de tímido, espontâneo.
A terceira de recolhimento, insegurança.
Desilusão, olho fora de olho, mão fora de mão.
O braço desliza, tira a mão dentro do peito.
Boca pergunta, boca responde, diz o nome, diz adeus.
Sorriso, por se fazer de forte.
Gemido, por estar insatisfeito.
A mão vai para o alto, balança, confirma mais um adeus.

Algumas noites nos fazem de objeto, fazem a virtude de rídicula e se acostumam com o "só por hoje"... a emoção do toque limita-se ao toque, o calor do beijo cria o desejo, a aparência torna-se tudo o que você pode ver.
Prefiro me fazer de vadia que de santo, tão mais fácil, mais gostoso, mais íntimo e prazeroso. O santo não sabe o que é pecar, não sabe o que é se arrepender. Nunca tomou o veneno e vomitou o antídoto para morrer de desgosto, nunca odiou tudo a sua volta por louvor ao egoísmo.
Advogando pro diabo, a vadia sente quando aquela pessoa é real, quando o toque, o olho e o sorriso são de verdade, ela sabe o que é amar, por isso sabe o que é odiar. Provou o veneno então reconhece o antídoto.
Tão mais intenso que o amor dos anjos é o amor daqueles que não tem o céu a perder.
O amor dos errados, amor sem recompensa, amor por amor.
Meros humanos, vadias por natureza, pais dos enganos, mestres da incerteza. Vagam pelo purgatório sem querer sair, sem acreditar em céu, vagam porque gostam, porque é natural. Vagam até um dia encontrarem o que não acreditam, e acreditarem no que mais queriam encontrar.
Não sei se é o céu, não sei se é o amor, eu ainda continuo vagando.