Um lugar chamado aqui.

Agradeço a minha sorte. Ser e estar onde estou.

Respirar meu ar poluído, apreciar meu cinza e viver em um complexo que nunca dorme.

Meu ar poluído me faz sentir urbano, automotivo, acordado pra vida pois sei que só de respirar já estou me intoxicando.

Meu cinza me deixa pintar meu próprio espaço, faz eu me sentir sozinho por isso aprecio minhas companhias, se não fosse o cinza não veria tanto esplendor no verde, a vida natural seria tão natural que enfraqueceria sua beleza.

Viver em um complexo que nunca dorme, acho digno, eu nunca sei a que horas vou dormir no dia seguinte por isso preciso de um ambiente que me acompanhe, as luzes na madrugada não te deixam tão sozinho com o cinza, e como minha poluição não me permite ver o céu estrelado eu gosto das lâmpadas.

Essa semana fui da roça de terra vermelha ao asfalto gasto da cidade, e...

Sair do monocrómico universo ultradimensional urbano me fez simples, natural. Vi beleza no ciclo de uma vida que aqui apelidamos de estética, senti o calor de estar fazendo parte de um complexo biológico mesmo aparentemente estando sozinho.

Mas sufoquei, enfureci, fui embora.

Aí você pergunta: mas porque exu?

Acho que isso responde...

Hometown Glory - Adele

Pois é, estava no paraíso mas voltei pro inferno frustrante que tanto amo. Estava seguro demais, limpo demais, tudo demais mesmo estando num ambiente minimalista, e como eu gosto da dificuldade, do desafio, do rala-rala da sofridão, volvi, estou de volta para respirar o ar que me inspira mesmo que me mata, para ter pressa de viver já que a contagem regressiva foi acionada no dia que nasci, para ligar pra quem eu amo sem pagar interurbano. Teclar me cansa, robotiza, dasmagnifica (adoro inventar palavras), falar se expressa por si só, sem bloqueio e sem emoticon.

Amo o verde, mas é inevitável amar o lugar onde a gente vive por natureza mesmo sendo ele urbano. Este não é um clamor às cidades, é uma declaração de amor pra minha terra-natal, mesmo que meu berço seja de alumínio e meu chão seja cinza, mesmo que as buzinas me aborreçam e os tiros me aterrorizem, mesmo que eu chore é aqui que meu sorriso se faz mais largo.

Mesmo que cidade não preste eu aceito, o amor é mais deficiente do que se pensa, é cego, surdo, sofre do pulmão e pega transito antes de chegar ao coração. Mas eu aceito.