Por dois instantes pensei que tivesse enlouquecido.
Primeiro. Conversando comigo mesmo em frente o espelho, me humilhava e elogiava, seguindo palavras mais desconexas que minha atitude.
Segundo. Não tenho sono, já tomei desde sedativos a remédios psiquiátricos, mas nada faz efeito. Minha cabeça parece ser mais forte do que eu quero, vivendo isolada do corpo. Atitude de louco, conclusões mais insanas ainda.
Hoje, passei algumas horas no escuro. De janela aberta e com o som do The XX tocando no fundo. Eu sinceramente não compreendo a que essa atitude se prendeu, para de tão desesperada maneira encontrar respostas que até as mentes mais esclarecidas não conseguem achar.

Dopado por contra-indicações que me instigam, enfurecido por conclusões óbvias, que obviamente estão erradas. Não pode ser tudo tão claro, deve haver um enigma. É preciso. Eu preciso. Nós precisamos de surpresas, motivações, dúvidas a serem esclarecidas.
E por respostas dadas incorretamente me fiz louco.
E por respostas dadas na minha mão julguei meus sintomas.
E por respostas engolidas por minha garganta eu procuro a cura da alma.
Meus questionamentos tomaram a direção dos joelhos, enfraqueceram a perna, se arrastaram até o pescoço, o apertaram com força, por diversão foram até meus olhos e lentamente os fecharam como se eu fosse o fantoche do meu próprio espetáculo.
Por hora estou na cama, permanecerei sedado por impulsos, enquanto não acho uma resposta mais profunda, que me acalme a tensão, me ponha pra dormir com carinho, pelo menos por uma noite, eu gostaria de dormir sabendo que quando abrisse os olhos o amanhã estaria na minha mão, eu teria um roteiro, e minhas falas seriam automaticamente fáceis, mais tarde, eu me deitaria de novo, veria um filme bom, receberia carinho e dormiria seguro de minha própria violência.
Reconstrução. Alguns chamam de auto-destruição, mas é preciso amassar os cacos para que a areia vire vidro de novo. O vidro que encantou a tantos, que feriu muitos e surpreendeu a si mesmo quando condenou as atitudes do seu próprio ego, o condenando por momentos e tormentos que deixaram cada vez mais turvo o que antes era transparente.
Para que o vidro vire arte é preciso de fogo, raiva e a areia da desconstrução.
Para que exista uma estrela é preciso haver caos aqui dentro.
Para que o campo de guerra vire um belo jardim, os corpos e medos dos guerreiros terão de ser enterrados, quanto mais fundo mais fértil.

Não vou me despedir repetidamente de mim, prefiro entrar em coma, aquele estado de concentração corporal que nem os médicos podem te ajudar e que os remédios precisam ser tomados na veia para surtir efeito, um dia pode vir a cura, mas quem decide abrir os olhos é você. Dizem que no coma as pessoas escutam o que lhes é falado, e que quando acordam essa memória do coma é apagada, ou seja, quando você encontra tua cura é preciso esquecê-la ao ser curado, aí vem a doença de novo e mais uma vez você terá de achar a cura sozinho, de olhos fechados e cabeça aberta.
Acho que a cura se esconde dos saudáveis para que esses não morram da tua overdose, ou simplesmente por conservação, para que ela exista para sempre.
Para os pessimistas a cura talvez não exista, a doença mata de dor ou loucura uma hora ou outra.
Para os otimistas, ela existe sim, e se não está na medicina está na sua alma.
Fico ao lado dos realistas, que não sabem da cura, não sabem da doença, não sabem ao menos se são reais, eles vagam com respostas complexas que esclarecem muitas incógnitas menos a sua própria. Os realistas talvez sejam os loucos, quando se descobre o que é real é preciso enlouquecer para esquecer a cura e voltar à doença da fantasia.
A vida doente pode ser mais saudável do que se imagina. A vida louca, acaba rápido, são poucos que ousam procurar a cura e viver no precipício da realidade.
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