sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ciclo do abismo

Motivo. Às vezes não existem motivos. Existe vazio, anestesia sentimental. Melancolia inventada pela falta do eu que te faz desabar.

Choro. Não se sabe porque, os motivos são tão íntimos que a superficialidade tem sua chance de parecer culpada, e é culpada, já que em mares tão profundos não existe luz para se ver os predadores.

Sorriso. O fingimento te faz nobre, ator digno, galante, cruel auto-destrutivo que tem orgulho de quem é, de apodrecer por dentro, mas sozinho. O confinamento dos seus pesadelos internos são sua glória, o prêmio são os elogios de quem o acha forte.

Sento na cama e penso o que eu ganharei na vida se eu levantar, qual será meu triunfo por me empurrar para mais um dia, qual a importância desse dia? Não consigo responder. Por isso levanto e me faço presente nas obrigações, já que só assim acharei uma resposta. Deito de novo, e não me vem nada a cabeça. Quem sabe nos sonhos eu acho alguma coisa.

Quanta infantilidade achar isso.

Eu riu da minha ignorância, por ter dúvidas repetidas de respostas dadas, conclusões precipitadas de um futuro distorcido e motivos mais impulsivos que a vontade de overdose.

Antes de ontem me disseram que o mundo iria acabar um dia, e eu disse que não. Acabar por que? Toda a complexidade se embasa no simples, podem destruir o planeta de diversas formas, mas sempre haverá renascimento, renovação. Por isso existe depressão, para renascer, se matar por dentro e conceber outra vida triste em seguida, uma vida de sorrisos incompletos e razões desnecessárias, que sempre te fará refletir sobre sua postura perante o mundo, te agoniza por tomar direções tão erradas que te fazem desconfiar em segredo de demência.

O ciclo recomeça a cada pane no sistema emocional. Você reinicia. Enche o HD de futilidades e vírus. HD inutilizável, sujo, dispensável, então você pode chorar, aos poucos a cada vírus que te invade, ou desaba de uma vez até precisar ser formatado. Alguns se matam nessa hora, por egoísmo ou mera impulsividade da negligência, não há melancolia que mate o corpo, morrer por fora é só um detalhe, não se mata um corpo sem alma, ele já está morto, é uma auto-eutanásia.

Para aqueles que continuam em manutenção pelo resto da vida o ciclo recomeça. Motivo. Choro. Sorriso.

Motivo. Permace desconhecido. Alguns chamam de amor quando na verdade é ódio de si mesmo. Prefiro o desconhecido, não há o que temer no desconhecido quando não se conhece nada. Um cego de amor, que ama sem pensar em como fazer isso. Apenas faz.

Choro. Porque te enobrece a melancolia, humilha o físico e acalma o espiritual. Dois goles de soluço são o suficiente, um te bate e outro te faz sentir dor. Uma coisa lógica, e aceitável, já que lágrimas são visíveis e nós gostamos que tudo seja explicável.

Sorriso. A bravura do imortal, não há morte feliz ou triste sem sorriso, por prazer ou ironia se faz presente. Por mais simples que seja o sorriso sempre será triste, falo do sorriso não do gargalhar, é uma maneira de esboçar que se está feliz (naquele momento), é o último recurso do corpo para te fortalecer o espírito e adiar a morte. O veneno da abelha, a defesa é a dor do inimigo e a recompensa é ter as entranhas mutiladas.

Pronto, encontrei mais uma razão lógica para os sentidos da vida, genial.

Não há coisa mais triste que ser um gênio. Feitos para a lógica, criador de fórmulas explicativas e racionais. Os tristes, são esses que nós chamamos de gênios. Os gênios da vida, ilógicos, desconstrutores das fórmulas explicativas e irracionais, os entendedores da alma, esses nós chamamos de loucos.

Talvez já nasçamos gênios da alma e perdemos a sabedoria com a racionalidade. Não é a toa que nascemos chorando, deve haver um motivo. O primeiro sorriso demora pra vir e quando vem deve ser para agradar aos pais e não porque se deseja sorrir. Então vem as palavras e a explicação do inexplicável, a autenticação do mutável, mais uma produção improvável de sucesso emocional. Nasce o ser humano, máquina, gênio e louco.

Concluo mais vazio do que comecei.

Desconheço direitos autorais, toda arte é terapia assistida e toda expressão uma língua não falada. Não sou gênio nem louco, sou simples, me embaso na complexidade para expressar quão simples procurar pontes é desnecessário. Abismos são feitos para nos jogarmos deles, morrer e talvez renascer.

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