domingo, 25 de abril de 2010

Silêncio e Incompreensão

Pela sorte de falar eu me entrego, pelo dom de me calar eu agradeço.

Palavras nunca foram bem vistas para quem as transforma em pedras, duras, mortas, nascidas de uma explosão, essenciais pela existência, errantes pelo caminho.

Falar o que não se sabe, falar do que não se gosta, falar do inexplicável, falar o que não se fala. Então surgem as perguntas imbecis com respostas egoístas, insultos mais honestos que seus suspiros de dúvida, agradecimentos automáticos pelo que não se sabe, não ajuda. Apenas diga obrigado e saia feliz. Você foi educado parabéns, talvez a educação automática seja o único erro da educação, é como pegar uma fila que não se sabe onde vai dar, apenas pegue, apenas fale.

Com o tempo você nobre sincero vai perceber que fala mais mentiras que verdades, faz mais suposições que afirmações. Isto não está claro para todos, não é pra ser, apenas leia e se entender esqueça cinco minutos depois, você gastou seu tempo com a incompreensão, sem saber que é ela que faz seu mundo continuar vivo. Então permaneça ignorante, vai rir muito mais, e o que for incompreensível, deixe passar, você foi feito para fazer perguntas não para respondê-las.

Faço das palavras de Einstein as minhas. A mentira mas dita pela humanidade é: eu estou bem.

E o silêncio vai ganhando seu valor pouco a pouco, a experiência faz das palavras desnecessárias, o flagrante desmente as testemunhas, o silêncio torna-se o grito do desespero. O mais alto, fúnebre e sincero, o grito do inexplicável, da vergonha, do evidente. O grito coringa, a única resposta certa, se você não responde não significa necessariamente que você não saiba.

Faço das palavras de Kate Nash as minhas. Eu adoro poder gritar, mas gostaria de ficar em silêncio, quando eu estou em silêncio as pessoas pensam que eu estou triste, e normalmente estou.

Tudo que você disser será usado contra você, seus atos serão julgados de qualquer maneira, não cabe ao teu juízo determiná-los errado, fica por conta do júri estar ou não estar de bom-humor. Julga-se o atuante. Condená-se o infrator, inocente ou culpado, ele terá sua pena, justificando o errado, ou mentindo outras verdades. Poderia ficar em silêncio e recolher-se no seu próprio cativeiro do que pagar a pena perpétua por besteiras da boca.

E então vem Clarice Lispector e diz: a palavra é meu domínio sobre o mundo.

Eu te digo, cuidado com o que dominas, porque assim como um cão bravo as palavras podem te dar um contragolpe. E disso Clarice mais do que sabia. "E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço".

Um Super-herói não precisa falar, um bom compositor não precisa cantar, um dia feliz às vezes só acontece a noite. Deixo que a sinestesia do silêncio fale por mim, pelo menos neste momento que estou fraco. Quando eu me recuperar, me dominar, me domar, direi olá para o meu herói, cantarei minhas canções e conseguirei dar um sorriso pela manhã.

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